quarta-feira, 7 de maio de 2008

CATECISMO DA NÃO-RESISTÊNCIA
Tolstói
Pergunta — De onde foi tirada a expressão "Não-resistência"?Resposta — Da frase: Não resistais ao homem mal. (Mt 5,39)
P — O que exprime esta expressão?R — Exprime uma alta virtude cristã ensinada por Cristo.
P — De onde se deduz que o Cristo tenha ordenado a não-resistência neste sentido?R — Das palavras que ele pronunciou a este respeito: "Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. E eu vos digo: Não te oporás ao malvado; assim, se alguém te bate na face direita, oferece-lhe a esquerda. Ese alguém quer brigar contigo, e tirar-te o manto, deixa-lhe também a veste."
[...]
P — Admitiam os antigos a resistência à ofensa com a ofensa?R — Sim, mas Jesus a proibiu. O cristão não tem em caso algum o direito de tirar a vida ou de atingir com um castigo aquele que lhe fez mal.
P — Pode ele combater um exército contra os inimigos de fora ou contra os rebeldes internos?R — Não, é claro. Ele não pode tomar qualquer parte na guerra, nem mesmo na organização da guerra. Não pode usar armas mortais, não pode resistir à ofensa com a ofensa, seja sozinho ou unido a outros, aja por si ou por intermédio dos outros.
P — Pode ele, voluntariamente, reunir e armar soldados para o serviço do Estado?R — Ele não pode fazer nada disto, se quiser ser fiel às leis do Cristo.
P — Pode ele, com benevolência, dar dinheiro ao governo que é sustentado pelas forças armadas, pela pena de morte e pela violência?R — Não, a menos que este dinheiro não se destine a um objetivo em especial, justo por si mesmo e cujos fins e meios sejam bons.
P — Pode ele pagar impostos a tal governo?R — Não, ele não deve voluntariamente pagar impostos; mas não deve resistir ao recolhimento de impostos. O imposto decretado pelo governo é recolhido independentemente da vontade de contribuintes. O homem não pode escapar dele sem recorrer à violência, e o cristão, não podendo usar de violência, deve abandonar a sua propriedade às arrecadações do poder.
P — Pode um cristão ser eleitor, juiz ou agente do governo?R — Não, a participação nas eleições, na justiça, na administração, nos fazparticipar da violência governamental.
P — Qual a principal virtude da doutrina da não-resistência?R — A possibilidade de cortar o mal pela raiz em nosso próprio coração, assim como no de nossos semelhantes. Esta doutrina reprova o que perpetua e multiplica o mal no mundo. Aquele que ataca seu próximo ou que o ofende provoca sentimentos de ódio, origem de todo o mal. Ofender o próximo porque ele nos ofendeu, com o propósito de repelir o mal, é reprovar uma má ação, é despertar ou pelo menos liberar, encorajar o demônio que pretendemos repelir. Satanás não pode ser expulso por Satanás, a mentira não pode ser purificada pela mentira, e o mal não pode ser vencido pelo mal. A verdadeira não-resistência é a única resistência ao mal. Ela degola o dragão. Destrói e faz desaparecer por completo os maus sentimentos.

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