quarta-feira, 7 de maio de 2008

Anarquismo Cristão

Quando digo que sou anarquista, muitos imediatamente pensam que sou a favor de uma sociedade na qual não haja ordem, paz ou justiça. Imagens de ataques e saques surgem na mente das pessoas quando ouvem a palavra “anarquia”. Resumindo, pensam que anarquismo é igual a caos. Você é capaz de imaginar a surpresa dessas pessoas quando digo que também sou cristão? Elas imaginam que o sistema de fé com uma estrutura moral não pode coexistir com a filosofia anarquista. Na minha humilde opinião, entretanto, creio que minha fé e meus ideais anarquistas coexistam em perfeita harmonia.
Antes de tudo, deixe me apagar alguns desses ridículos estereótipos sobre a ideologia anarquista. Deixe-me começar dizendo que anarquia não é igual a uma sociedade sem moral, e a filosofia anarquista não encoraja a violência nem o desprezo ou direito dos outros. Uma sociedade anarquista é simplesmente uma sociedade sem leis. Não há leis porque não se precisa delas. É um lugar onde cada um é moral o suficiente para respeitar o direito de cada um. É uma sociedade que não aceita uma estrutura de poder que possa impor sua vontade sobre o povo. Não importa quão perfeito seja um governo, sabemos que aqueles que estão no poder podem e irão se corromper e abusar do seu poder. Um governo sem corrupção só poderia existir em um mundo ideal; mas se falamos de um mundo ideal, porque deveria haver um governo nele? Desde que os governos sempre serão corruptos em qualquer mundo que não seja o ideal, devemos fazer com que nosso mundo seja um mundo ideal, de forma que possamos eliminar os governos. Não deveríamos aceitar estruturas de poder que tentam resolver os problemas a partir dos altos postos da autoridade. Quando conferimos aos líderes governamentais o dever de “consertar” a sociedade, nos tornamos preguiçosos e apáticos. Pode ser que assim estejamos livres para perseguir nossos ideais particulares livremente, mas, entretanto, o abuso do poder se torna mais severo, e a injustiça que o acompanha cresce firmemente. É por isso que não devemos aceitar cegamente a autoridade das estruturas de poder que nos cercam, nem devemos depender dela para resolver os problemas da sociedade. Em vez disso, devemos trabalhar para crescer, em nível individual, para transformar a sociedade como um todo, de forma que possamos criar uma sociedade na qual seja fácil ser bom e ter moral.
É nesse ponto que o aspecto cristão entra. Cristo nos ensinou que devemos amar nossos próximos e tratá-los com respeito. Esse espírito de caridade tem o potencial de transformar a sociedade. Uma sociedade que pratica a caridade é uma sociedade sem injustiça, e uma sociedade sem injustiça é um mundo ideal — um mundo que não precisa de governos.
Certas pessoas podem perguntar como alguém pode colocar juntas a ideologia anarquista e a cristã. É possível observar isso claramente na vida do próprio Jesus Cristo. Jesus não aceitou cegamente a autoridade dos sumos-sacerdotes e dos escribas (os quais detinham a maior parte da autoridade da sociedade hebraica). Em vez disso, ele questionou o que esses líderes ensinavam e como eles enxergavam as antigas leis. Ao fazer isso, Jesus nos apresentou uma forma totalmente revolucionária e nova que enfatizava a importância do amor sobre a lei. Cristo percebeu que os sumos-sacerdotes enfatizavam demais a lei, usando-a para conseguir poderio próprio. Eles haviam perdido todo o sentido do propósito original das leis. Dessa forma, a lei havia perdido sua eficiência, pois foram corrompidas. A forma havia se sobreposto à função. Por causa disso, Cristo usou uma nova abordagem e direcionou seus ensinamentos mais para o sentido de seguir uma vida de caridade. Ao concentrar seus ensinamentos em caridade, ele colocou a função acima da forma. Ele sabia que para tornar o mundo um lugar melhor, as mudanças deveriam começar no coração de cada um, e passou a ensinar COMO sermos pessoas boas em vez de nos dar uma lei que se tenha que seguir para se tornar alguém bom. Cristo nos ensinou sua mensagem revolucionária não somente através de pregações, mas especialmente por meio de exemplos, e é refletindo sobre os exemplos de Cristo que podemos realizar as mudanças mais positivas. Pense nisso: se cada um vivesse os exemplos de Cristo, será que haveria a necessidade de termos governos?
Enquanto penso que não é fácil fazer com que o mundo esteja livre de governos, continuo crendo que como pessoas que crêem no amor e na justiça, devemos sempre manter um cepticismo saudável ao tratar dos nossos compromissos com os poderes que governam esse mundo. Uma filosofia anarquista está cheia de benefícios para aqueles que vivem numa sociedade com leis e estruturas rígidas. Um anarquista cristão deve sempre questionar, como Cristo, os poderes estabelecidos. Em qualquer situação, questionamentos sempre nos levarão cada vez mais pertos da Verdade.

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